Até 2027, estima-se que haja crescimento de 33% de cargos que tenham relação com sustentabilidade, de acordo com o estudo “Future of Jobs”, realizado pelo Fórum Econômico Mundial e pela Fundação Dom Cabral. Isso significa que haverá um milhão de novas vagas relacionadas com ESG, que são as práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização.
Junto a isso, as ações de sustentabilidade estão cada vez mais no radar das empresas. Em 2022, o tema era visto como prioridade para 9,6%. Em 2023, o dado chega a 13,9%. É o que diz o relatório “Tendências de Gestão de Pessoas 2023”, conduzido pela Great Place to Work em parceria com a Great People.
A sigla ESG surgiu em 2004, a partir de uma publicação da Organização das Nações Unidas (ONU), chamada Who Cares Wins, que contou com a participação de instituições financeiras de 9 países. O termo se popularizou com o passar dos anos e, hoje, tem atraído mais mais pessoas interessadas no tema, incluindo profissionais que desejam atuar na área.
“Todos os pilares são transversais”
Conforme explica Marina Pequeneza, Gerente de Sustentabilidade da Cogna Educação, ESG pode ser resumido como um conjunto de métricas para identificar se a empresa tem boas práticas na dimensão ambiental, social e governança corporativa. “Todos os pilares são transversais e não dá para falar de apenas um sem olhar os outros”, destaca.
Marina começou sua carreira na área de social, com foco em agenda de impacto social positivo, também conhecida como responsabilidade social corporativa. É formada em Relações Internacionais, pós-graduada em Ciência Política e Relações Governamentais e Mestra em Ciências Sociais.
No período da graduação, estudou sobre economia, política, história, administração e negociação. Estudar esses pilares, que permeia várias profissões, deu motivação para ela construir uma carreira com propósito para contribuir, positivamente, com a sociedade, para transformar realidades. Com isso, de forma natural, chegou até a área social.
Habilidades para trabalhar com ESG
Outro dado reportado pelo relatório de Tendências de Gestão de Pessoas 2023 indica que 16,7% das empresas não possuem iniciativas relacionadas com ESG, mas que querem iniciar. O cenário ideal é que as empresas assumam compromissos, estabeleçam metas e reportem as evoluções, como fazem 13,7% dos participantes da pesquisa, que afirmam realizar a publicação de relatórios de sustentabilidade baseados em padrões internacionais.
Mas, para que haja um aumento no número de empresas que adotam práticas ESG, é preciso que haja profissionais especializados e capacitados. Um dos pontos é saber analisar indicadores. “Não adianta você ter os números, analisá-los e coletar dados se não existe uma contextualização dessas informações”, pontua Marina.
Para isso, ao implementar um projeto social, por exemplo, é preciso entender qual foi o impacto, seja positivo, seja negativo. Ou seja, entender como era a situação antes e como está agora. Com isso, é a partir da análise crítica que será possível medir o desempenho da ação, entender se a estratégia alcançou um resultado satisfatório e definir os próximos passos.
Além dessa habilidade, o profissional precisa ser crítico, estar apto a fazer provocações e não ser comodista. É preciso, de fato, querer fazer mudanças. “É a partir da oportunidade de fazer diferente que as oportunidades são geradas. Precisa ter boa vontade, criatividade, curiosidade, empenho e fazer questionamentos”, destaca Marina.
Para quem está começando a trabalhar com sustentabilidade, Marina sugere olhar qual pilar da agenda te atrai mais: ambiental, social ou de riscos, por exemplo. “É uma carreira ampla, com diversas oportunidades, em diferentes áreas”, ressalta. Ou seja, você pode começar a se especializar em uma área e, depois, ampliar a sua atuação.
“Para trabalhar com ESG, precisa ter boa vontade, criatividade, curiosidade, empenho e fazer questionamentos.”
— Marina Pequeneza
Como adquirir conhecimento na área?
O primeiro passo é ter em mente que qualquer bagagem profissional, independente da área que você atua, vai ser válida. Um profissional de Direito, por exemplo, que, agora, quer focar na carreira de sustentabilidade, já possui conhecimentos em legislação e, geralmente, apresenta boa oratória e escrita, que são habilidades importantes para trabalhar no setor.
“Não desconsidere toda a trajetória que você tem. Ela vai ser útil e, no desenvolver, você vai notar”, pontua Marina. Outro ponto importante é estudar e buscar conhecimentos. Para isso, é interessante ler artigos sobre o tema, ouvir podcasts, assistir vídeos e investir na leitura de livros, como os recomendados pela Gerente de Sustentabilidade:
- Capitalismo Natural: Criando a Próxima Revolução Industrial – L. Hunter Lovins, Paul Hawken e Amory B. Lovins
- Sustentabilidade – Canibais com Garfo e Faca – John Elkington
- Green Swans: The Coming Boom in Regenerative Capitalism – John Elkington
- Net Positive: How Courageous Companies Thrive by Giving More Than They Take – Paul Polman e Andrew Winston
- Economia Donut: Uma alternativa ao crescimento a qualquer custo – Kate Raworth e George Schlesinger (Tradutor)
- Desenvolvimento sustentável: Das origens à agenda 2030 – José Carlos Barbieri
Também é essencial fazer networking não só externo como interno. Isso porque trabalhar com ESG exige articulação para se conectar com outras pessoas. “Essa é uma agenda global que não se sustenta sozinha. É necessário um engajamento recorrente com outros setores da companhia para conquistar parceiros e avançar”, destaca Marina.
Além disso, a dica é participar de eventos e fóruns para conhecer outros profissionais e compartilhar experiências. Para quem está começando, vale pesquisar empresas que são referências em sustentabilidade, verificar no LinkedIn quem são as pessoas que ocupam as posições na área e entrar em contato para trocar conhecimentos.
Indo além, o aprendizado pode ser conquistado com o auxílio de uma pós-graduação, incluindo os cursos “ESG e Sustentabilidade Empresarial”, “ESG – Um Novo Olhar Para os Negócios” e “ESG no Agronegócio”. Isso porque trabalhar com ESG está no topo das profissões do futuro. Ou seja, as empresas necessitam cada vez mais de especialistas que tenham um olhar aprofundado sobre sustentabilidade e saibam gerar valor ao negócio.
Geração de valor
A pessoa que passa a ocupar uma posição para atuar com esta agenda global e traça estratégias e ações genuínas tem como resultado diversos fatores positivos. Marina cita, por exemplo, a reputação da empresa “como marca empregadora, o que contribui para a atração e retenção de talentos, para o consumidor final e para a sociedade.”
O consumidor, inclusive, está cada vez mais engajado com os propósitos das companhias. Para se ter uma ideia, a pesquisa “Retratos da Sociedade: hábitos sustentáveis e consumo consciente”, divulgada em 2022 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), indica que 74% dos brasileiros possuem hábitos sustentáveis, como evitar o desperdício de água, comida e energia.
Esses hábitos também se refletem no momento em que o consumidor deseja comprar um produto ou serviço. Com isso, escolhem marcas que possuam práticas sustentáveis. Em muitos casos, desistem da compra quando as empresas realizam violações a direitos trabalhistas, crimes ambientais, maltrato a animais e qualquer tipo de discriminação. Ou seja, essa é uma preocupação que deve fazer parte das empresas.
Neste ano, por exemplo, a Cogna Educação passou a fazer parte do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3, sendo a primeira empresa de educação a participar da carteira. A inclusão acontece porque a companhia foi reconhecida por adotar boas práticas ESG. O manifesto Compromissos Cogna por um Mundo Melhor possui 14 metas públicas que devem ser alcançadas até 2025.
Por quais práticas começar?
Independente do porte da empresa, seja pequena, seja média ou grande, o primeiro passo é fazer um diagnóstico. O relatório “Tendências de Gestão de Pessoas 2023” destaca que 17,7% das empresas já estão nesse processo, que inclui planejamento e descoberta de temas que são relevantes para o negócio.
“Existem vários indicadores que podem servir como base. Não precisa ser uma análise exaustiva. A construção vem com a matriz de materialidade, que considera os temas que são prioritários na estratégia da organização na agenda ESG. Com isso, serão desdobrados os indicadores sociais, ambientais e de governança corporativa”, explica Marina.
O processo envolve analisar dados. Isso significa analisar internamente, por exemplo, os colaboradores da organização. Alguns indicadores iniciais incluem taxa de turnover e índices de diversidade, como questões de gênero, raça e orientação sexual, além de identificar a quantidade de pessoas com deficiência (PcD).
Com base nos dados, o próximo passo, em um segundo momento, é analisar se os grupos minorizados chegam à liderança, por exemplo. Nesse sentido, traçar ações afirmativas é um caminho para ampliar as ações de diversidade, equidade e inclusão. Isso inclui, inclusive, processos seletivos direcionados para esses grupos.
Exemplo disso é a Cogna, que lançou, em 2022, o primeiro Programa de Trainee exclusivo para mulheres negras. A iniciativa acompanha os compromissos ESG da empresa, que incluem alcançar 40% de pessoas negras em posições de liderança até 2025, assim como atingir 50% de mulheres líderes.
Além dessas questões, existem outros pontos que devem ser avaliados, como licença-maternidade estendida, bem como a paternidade para 20 dias. Também vale acompanhar boas práticas de mercado nacionais e internacionais, assim como oferecer remunerações equânimes e compatíveis com a posição e experiência do profissional.
As metas também podem incluir pontos sobre saúde, bem-estar emocional e segurança, como oferecer treinamentos para que os colaboradores recebam a capacitação adequada e atuar de forma preventiva para evitar o surgimento de doenças ocupacionais. É importante que as empresas acompanhem as queixas e as tratem antes que virem condições que impactam a qualidade de vida.
Como vimos, existem diversas habilidades que o profissional que deseja trabalhar com ESG precisa desenvolver, assim como gerar valor para o negócio e outras informações importantes. Por fim, Marina destaca que o desenvolvimento das competências mencionadas ao longo do conteúdo é essencial para todos, independente da jornada na área de ESG.
“Precisamos de profissionais com essas habilidades em diferentes setores e áreas da economia nacional para que, de fato, alcancemos um cenário de desenvolvimento sustentável, de justiça social e equilíbrio em nosso planeta. Afinal, trata-se de uma agenda transversal e holística”, pontua.
Agora, confira outros conteúdos do blog e saiba como encontrar vagas em ESG e os salários oferecidos na área. Boa leitura!