É consenso entre os psicanalistas que a função do brincar exerce condição fundamental na prática da psicoterapia infantil. A essência do brincar está em fazer de conta. E o que significa fazer de conta nas brincadeiras de criança pela perspectiva da hora do jogo em psicanálise?
Fala-se em “faz de conta” porque as brincadeiras se baseiam em símbolos, ou seja, um objeto é utilizado para representar outra coisa. Isso permite que a criança utilize seu mundo da imaginação de forma a representar suas emoções e sentimentos – isso significa afirmar que a criança poderá dar um sentido a experiências do cotidiano que vivenciou e vivencia.
Assim sendo, para além da imaginação a criança poderá imitar! É a ação da imitação que repousa toda a subjetividade da criança, essa ação é o foco, portanto, do olhar técnico, atento e sensível do psicoterapeuta infantil, sendo assim, o principal canal de comunicação entre o profissional e a criança.
De um modo geral, o faz de conta é fundamental para o desenvolvimento, principalmente emocional da criança. A ideia central do faz de conta para a criança é possibilitar seu auto-conhecimento, uma das bases muito importante para a interação com outras pessoas e não só nessa fase da infância como também poderá prepará-la para seus relacionamentos na vida adulta.
É recomendado ao psicoterapeuta infantil que tome conhecimento das estórias do campo da literatura infantil e estude sobre as mensagens contidas nesses escritos, elas dizem muito sobre os principais conflitos infantis. Principalmente as estórias clássicas como “A Branca de Neve e os sete anões”; “Cinderela”; “João e Maria”, dentre outras obras que são repletas de simbolismos para quem deseja entrar no universo infantil.
Na psicanálise há uma obra chamada “A Psicanálise de Contos de Fadas” do autor Bruno Bettelheim, leitura obrigatória para quem deseja conhecer e se aprofundar nos dilemas e conflitos da criança e também de ser apresentado aos simbolismos contidos na infância. Pela perspectiva da psicanálise, o autor vai apresentando e fundamentando as motivações psicológicas da criança contidas nos contos de faz de conta. Porém, o faz de conta não se resume apenas a contos de fadas, qualquer forma de utilização de um objeto que a criança faça alusão a outra coisa, ela estará exercendo essa função de fazer de conta.
Assim, em resumo, o faz de conta para a criança tem um valor terapêutico imensurável e com a ajuda efetiva e técnica do psicoterapeuta infantil, a criança poderá descobrir e compreender significados e sentidos mais profundos de si mesma, além de despertar a curiosidade para explorar sua subjetividade. Todo esse processo traz um ganho do ponto de vista qualitativo sobre a Saúde Mental da criança.
Autoria: Karla Cristina Gaspar
Revisão: Fernanda Otoni