Na cultura hindu, existe uma deidade representada por uma figura metade masculina, Shiva, o grande deus tríplice da destruição, e metade feminina, Shakti, a deusa do sagrado que leva dentro de si o poder da criação. Esse ser sagrado representa o equilíbrio entre o homem e a mulher, o racional e o emocional, e é cultuado por ser um símbolo da sabedoria perfeita. Baseando-se nesse conceito, o mercado de trabalho adotou a liderança Shakti, em que os dois arquétipos se apresentam no mundo dos negócios trazendo mais estabilidade e força para prosperar.
A preocupação em ter esses dois polos em cada ser humano começa com a chegada do patriarcado na sociedade, fazendo com que os meninos aprendam desde cedo que ser sensível é sinônimo de masculinidade frágil, chorar é sinônimo de fraqueza e qualquer tipo de comportamento que seja tido como feminino é motivo para tirarem sarro ou duvidarem de “quão homem” se é.
Com o objetivo de utilizar o melhor dos dois mundos no ambiente corporativo, os escritores Raj Sisodia e Nilima lançaram em 2016 o livro ”Liderança Shakti: adotando poderes masculino e feminino nos negócios”, que desde então vem sido estudado pelas empresas como uma nova forma de administração.
De acordo com os autores, a escolha do termo foi por conta do seu significado: para os antigos yogis ou iogues (praticantes da yoga), Shakti é a força que move o mundo rumo à evolução, uma energia interior relativa à criação e, portanto, associada às deusas do sagrado feminino.
Atualmente, as empresas trabalham em um modelo de gestão totalmente centralizado no patriarcado, zelando pela concentração de poder em um único representante, a frieza na conduta do trabalho e na competitividade acima de tudo. Em momentos de tristeza, solidão, dor ou ansiedade, os funcionários são instruídos a deixar as suas emoções de lado para poderem voltar a produzir no ritmo anterior.
A mulher no ambiente de trabalho
De acordo com a pesquisa “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, feita pelo IBGE em 2021, 37,4% das mulheres ocupam cargos de liderança ou gerência no Brasil, mesmo assim elas ainda recebem 77,7% do rendimento dos homens. Isso significa que ainda não atingimos o equilíbrio do mercado (principalmente quando lembramos que somente 11% das mulheres brasileiras ocupam o cargo de CEO de uma empresa), mostrando que a realidade da liderança Shakti ainda está longe de se concretizar.
Uma pesquisa feita pelo LinkedIn e pela consultoria de inovação social Think Eva mostrou que quase metade das mulheres brasileiras já sofreu assédio sexual em ambiente corporativo, sendo que as mais afetadas são as mulheres negras (52%) e que recebem entre dois e seis salários-mínimos (49%). Engana-se quem pensa que somente as profissionais de cargos mais baixo passam por essa situação: das entrevistadas que desempenham o cargo de gerente, 60% já sofreram assédio sexual e, entre as diretoras, o número chegou a 55%.
As particularidades do modelo de liderança Shakti
No modelo de liderança Shakti, a gestão tem como principal objetivo restaurar a serenidade e bem-estar do grupo de trabalho, curar dores físicas ou emocionais da equipe, restaurar o equilíbrio entre o feminino e masculino, aumentar as chances de visibilidade da mulher no local de trabalho e promover a evolução de todos de forma igual, levando em conta a particularidade de cada indivíduo. Esse estilo de liderança acaba resultando em um ambiente mais cooperativo, empático, leve, tranquilo, acolhedor e organizado. Todas essas qualidades são vistas como femininas pelo povo indiano.
A conclusão dos autores no fim do livro, ele, como especialista em Capitalismo Consciente e, ela, coach, é de que a forma em que nos organizamos atualmente são sintomas de uma sociedade doente, unilateral e egocêntrica, que colaboram com o aumento de casos de síndrome do pânico, depressão e burnout. Ter emoções e sentimentos reprimidos causam problemas psicológicos sérios, prejudica o desenvolvimento da inteligência emocional, fragiliza o sistema imunológico e deixa o profissional vulnerável a problemas de saúde.
Além disso, o indivíduo começa a apresentar fragilidade do ego, dificuldade de lidar com problemas de cunho emocional no trabalho, indiferença quanto aos colegas e situações do trabalho, problemas para identificar situações de estresse e incapacidade de lidar com problemas cotidianos de forma calma. O cérebro fica confuso e tende a ter reações explosivas por qualquer questionamento.
Outro assunto levantado após a publicação da obra foi sobre a competitividade de gênero que nos cerca no mercado de trabalho, mas vale aqui reforçar que o modelo de liderança Shakti não apoia um gênero acima do outro, mas que ambos trabalhem lado a lado com as mesmas oportunidades, gerando bons frutos. O primeiro passo, de identificação de um problema com esse desequilíbrio, já foi dado e, agora, é preciso dar sequência para que um modelo mais sustentável e menos discriminatório chegue às empresas. Aproveite para conhecer as habilidades da liderança do futuro.