O escritor francês Vitor Hugo já dizia: “A suprema felicidade da vida é a certeza de que somos amados apesar de ser como somos”. Fico imaginando como seria vazia uma vida em que você tem o sentimento de que não é amado por nem uma pessoa no mundo, ou que é apenas apreciado por atributos efêmeros e não pelo simples fato de existir. O mais intrigante é que percebi que este sentimento é mais comum do que eu imaginava.
Quando fiz este comentário em uma sala de aula, um aluno compartilhou que se sentia desta maneira, que ninguém o amava, pois não tinha notícias de seu pai, sua mãe havia morrido devido às drogas e ele sentia que era apenas um incômodo na casa dos tios que o criavam. Ao comentar este fato na sala dos professores, uma professora compartilhou que também sentia que não havia ninguém que a amasse verdadeiramente no mundo, sua mãe havia morrido há muitos anos, seu pai havia morrido recentemente e seu marido, havia deixado ela por outra pessoa. O mais intrigante é que ambos me pareciam tristes, sem esperança e planos para o futuro e levavam a vida e as responsabilidades com muita dificuldade. Assim, pesou em mim a consciência e a responsabilidade de que para algumas pessoas, o espaço escolar pode ser o único lugar onde possam se sentir amadas.
Para Sófocles, dramaturgo grego da antiguidade, somente o amor poderia nos libertar do peso e das dores da vida. E para Freud, o pai da psicanálise, uma pessoa é forte quando está segura de que é amada, em contrapartida, um ambiente sem amor adoece. Lembro-me de como me sentia infeliz em uma escola em que eu era zombada por alunos e pela professora, não consegui fazer amigos lá. Quando estava na escola, eu não via a hora de voltar para casa, não conseguia aprender, fiquei doente várias vezes, até que acabei reprovando aquele ano. No outro ano fui para uma escola simples, pequena, fiz amizades, ninguém era inimigo de ninguém e eu sentia que a professora amava seus alunos. Nesta escola, pela primeira vez eu me vi como inteligente, minhas dificuldades de aprendizagem pareceriam não existir mais, descobri diversas capacidades e o quanto escrever poderia ser prazeroso.
Adorava os elogios da professora e aprendi a ouvir suas críticas, pois sentia que ela gostava de mim. E assim, eu entendia que tudo o que a professora Rita falava era porque acreditava em meu potencial de melhorar. Compreendi que o afeto tem o poder de promover a sanidade, a felicidade, a força para encarar os problemas da vida de forma corajosa. O amor está intimamente ligado ao processo de ensino e aprendizagem. Para o filósofo da educação Paulo Freire:
Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita. Não há educação do medo. Nada se pode temer da educação quando se ama. (FREIRE, Educação e Mudança,1979, p. 15).
Para Freire, o ato de educar é capaz de transformar pessoas para que elas transformem mundo, é o equilíbrio entre dar a liberdade e proporcionar possibilidades para que os educandos desenvolvam suas habilidades e se construam coletivamente como pessoa, sem os deixar soltos e abandonados sem princípios morais. O educador amoroso é zeloso de sua autoridade sem ser autoritário e nem licencioso, isto é, não deixa o aluno fazer o que quer, mas não impõe um modo de ser impossível à sua natureza.
O educar com amor respeita a diversidade e a dignidade humana, promove um pensar democrático, ético, conscientizador, mas também põe limites, desafios e responsabilidades, a fim de promover um convivência autêntica, uma “unidade de cooperação em um vínculo crítico e amoroso” (FREIRE, Educação como prática de liberdade, 1967). Assim, se desejamos que a escola seja um espaço de aprendizagem, é fundamental transformá-la em um espaço de afetividade, promovendo o senso de respeito, de cooperação, de conscientização e convivência autêntica.